segunda-feira, 10 de março de 2008

O realejo.

Alguém sabe o que é buscar a sorte com o piriquitinho verde do realejo? Acho que as pessoas mais novas não sabem nem do que se trata. Principalmente aquelas que sempre moraram em grandes centros. Eu como nasci e passei minha infância inteira nos fundões das Gerais, vivia correndo por todos os lados atrás da pessoa que carregava o tal instrumento com o misterioso periquito verde. Normalmente era um senhor e para mim, devido a diferença de idade, parecia ser sempre o mesmo velho.

O instrumento musical era uma espécie de órgão com o mecanismo de uma caixa de música e o som amplificado. Quando era girada a manivela, para dar corda ao instrumento, ele logo emitia um som característico. E todos já sabiam que tinha um realejo na cidade.

Acompanhava-mos o “velho do realejo” praticamente o dia todo. Para a criançada era uma diversão. Toda a vez que uma pessoa era convencida a tirar a sorte era uma festa. O velho rodava a manivela, a música começava e logo o piriquitinho já se arrepiava todo começando a dar voltinhas até resolver pegar com o bico, um dos papéis que ficavam dentro de uma gavetinha. Um momento de suspense de quase parar o coração e o velho então tirava do bico do bicho e entregava a pessoa a sua frase de sorte. “Vai encontrar um grande amor”, “Vai ter bastante sorte no emprego” e todo mundo festejava com palmas e vivas. Nunca soube de pessoas para quem os papeizinhos trouxessem notícias ruins.

Hoje pela manhã eu estava andando na rua e ouvi um som bastante parecido com o do velho realejo. Lógico que não era um realejo, impossível ser um em plena Avenida Paulista. Olhei, procurei e fiquei sem saber o que era. Mais foi muito bom ouvir aquele som. Fez-me muito bem. Imaginação? Não sei, o que sei é que fui imediatamente transportado para as ruas de paralelepípedos de minha cidadezinha, e senti muita saudade do “velho do realejo”.

Acho que estou ficando velho. Sem realejo.

9 comentários:

oceanus disse...

Gostei imenso desta sua forma de escrever a palavra "saudade"...e nada disso...ficamos diferentes mas nunca "velhos".

Agradeço a sua visita, volte sempre

bjs Oceanus

Ana disse...

Recordar assim é mais que recordar, é reviver. E o realejo que ouviste é, de certeza, bem real.
Que o periquito verde continue a trazer só notícias boas.
Um beijo.

Odilon disse...

Primeiro, parabéns pelo novo visual. Ficou muito bom, sem descarcaterizar a cor. Mais moderno e com esta foto especial.

Os seus textos estão cada vez melhores. A sensção de nostalgia passa para quem lê, mesmo quando somos bem menos antigos e só sabemos do realejo por ouvir dos mais velhos.

roberto bezzerra disse...

Em mim também causa um efeito bonitamente nostálgico, e não pude deixar de lembrar de uma música do Chico Buarque, que faço questão de transcrever o primeiro verso:
"Realejo"
Estou vendendo um realejo
Quem vai levar...?
Quem vai levar...?
Já vendi tanta alegria,
Vendi sonhos a varejo
Ninguém mais quer hoje em dia
Acreditar no realejo
Sua sorte, seu desejo
Ninguém mais veio tirar
Então eu vendo um realejo
Quem vai levar...?

[gostei do "new look".Mais jovem & moderno,sem deixar de ser Chili Verde!]

Anônimo disse...

Adoro vir aqui, levo sempre algo na bagagem do conhecimento, obrigada por partilhares o teu conhecimento connosco.
Adorei o aspecto do blog, ta mt verde, mt leve.

Beijufas de Luz!!

anad disse...

Gosto da sua prosa. Vou voltar do outro lado do mar.
Anad

Nanda Nascimento disse...

Que legal Otávio,

Viajei agora, mais consegui resgatar na minha memória histórias deste realejo, porque eu particularmente nunca vi, belas lembranças!!

Beijos e flores!!

andorinha disse...

Realejo que não me lembro de ter visto, por aqui, deste lado do mar, mas que as tuas palavras me fizeram conhecer.
Beijo.

Anônimo disse...

É EU NÃO CONHECIA POR ESSE NOME, MAIS JA TINHA VISTO NA PAULISTA E ACHO QUE O SOM QUE VOCÊ OUVIU FOI REAL, POIS FOI NA PAULISTA QUE VI PELA PRIMEIRA VEZ UM REALEJO.
BJOS