quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A incrível Augusta.

Hoje, antes de ir para meu trabalho, fui até o banco na Rua Augusta. Dando uma olhada rápida nas poucas casas comerciais que ainda existem e nas portas de loja fechadas, fiquei bastante triste. A rua esta um lixo, os prédios não são pintados ou restaurados há anos. Tudo sujo e degradado. Virou realmente uma rua de prostituição. É só o que se vê por lá. Boates sujas e saunas encardidas. Aquele tipo de negócio que só tem algum atrativo à noite, quando está escuro e as luzes coloridas e néons são o que sobressaem. Um verdadeiro circo dos horrores.

Mais nem sempre foi assim. Na São Paulo pré-shopping, meados e final dos anos sessenta. A Augusta era sem dúvida nenhuma o endereço mais badalado da cidade. Todas as lojas de grife estavam lá, era o sonho de qualquer empresário da moda, atelier de costura, lojas de decoração, lojas de tecidos exclusivos, estabelecerem-se em um imóvel, na verdade servia qualquer casa pequena, mas todos queriam aquele endereço.

Tudo o que hoje em dia acontece em shoppings, acontecia na Augusta daquela época. Só tinha um detalhe de requinte a mais, as pessoas podiam circular pela rua dirigindo e ostentando seus carros de luxo ou esportivos bem equipados. Lembram-se daquela música “subi a Rua Augusta a 120 por hora”, pois é, tudo mentira, jamais isto acontecia. As pessoas queriam ver e serem vistas. Se quisesse circular, a pé ou de carro, nos quarteirões entre a Rua Oscar Freire e a Alameda Santos, tinha que ter no mínimo duas horas livres para gastar. O movimento era infernal, principalmente aos sábados quando parecia que a rua recebia a cidade inteira para uma festa.

Sinceramente dá muita pena passar por ela hoje e lembrar que aquela rua decadente já foi a mais charmosa do país.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Dia da saudade.

Hoje, 30 de janeiro, comemoramos o “Dia da Saudade”. Como a saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa, não deve ser o dia internacional da saudade. Pensei comigo, e acabei indo dar uma pesquisada, o porquê de não haver tradução desta palavra para outras línguas. O que achei foi o seguinte, não existe em outro idioma, qualquer outro, uma única palavra para expressar uma variedade tão grande de sentimentos que se acumulam neste termo.

Todos os outros idiomas têm palavras ou termos para cada tipo de saudade. Saudade de casa, do país, de alguém, de algo, tudo isso tem seus termos para designar o seu significado. O sentimento deles é específico, o nosso é genérico. A palavra serve para colocar para fora qualquer tipo de falta que sentimos, desde os mais nobres, como falta de alguém, até os mais vagabundinhos do tipo saudade da caminha quente.

Na verdade o que fizemos foi deturpar, levamos para outros lados, o significado original da palavra. Saudade vem do latim solitate, que na tradução literal quer dizer solidão. Acabamos por usar a palavra para dar um sentido mais romântico, mais nostálgico para definição da falta do que quer que seja.

Saudade

Na solidão na penumbra do amanhecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.
Que saudade...

Mário Quintana

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Aprendendo com a vida.

Quando eu tinha 19 anos, aconteceu o que de pior poderia acontecer na época e o que de melhor aconteceu para o resto de minha vida. Fui servir o exército. Este acontecimento mudou minha vida, naquele tempo eu me achava o último dos últimos, mas a vida me ensinou que foi uma lição pela qual eu precisava passar.

Garoto mimado, filho único, cinco irmãs para fazer qualquer vontade e era cheio delas, de repente vi que minha vida havia dado uma reviravolta. Fiz de tudo para me safar desta, mas não teve jeito, o tenente que fazia a tal seleção parece que farejava a malandragem que os garotos faziam para tentar se livrar daquele tormento. Não teve conversa já voltei para casa com a cabeça raspada naquele corte que só os militares conseguem fazer.

Meu mundo desabou, quase todos da minha idade usavam o cabelo comprido até os ombros, eu não era exceção, de repente, sem mais nem menos, ter meus cabelos arrancados por aquele “Dalila” de fardas foi o fim de minha vidinha de pseudo-hippie. Acabou com todas minhas forças. Tinha de me apresentar em 15 dias. Fui para casa e lá fiquei até o dia da apresentação. Morria de vergonha de sequer colocar o nariz pra fora da porta de casa. E o resto de meus dias como milico não foram muito diferentes. Quando não estava trancafiado no quartel, estava na minha prisão particular, foram dias terríveis.

Fiquei por lá exatos um ano e um mês. O período normal são dez meses, mas para sair nesta primeira baixa, é necessário ter um excelente comportamento, fato que ficou bem longe de acontecer, depois até posso contar com mais calma as aventuras em que me meti no quartel. O esquema era, aprontava ficava preso e tinha pontos a menos no prontuário. Fiquei muito tempo preso e acabei saindo só na segunda baixa, como punição.

Hoje eu entendo que boa parte da pessoa que sou hoje, devo ao período que fiquei no exército. Lá eu aprendi, a duras penas, que aparência não é tudo na vida, aprendi a cuidar de mim sozinho, a ter muita persistência para conseguir o que se quer, a ter respeito pelas pessoas e principalmente que por mais que você não queira, existe uma hierarquia no mundo.

Enfim o que foi muito ruim em determinada época, fez com que eu hoje me orgulhe de ser a pessoa que sou.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Dançando, dançando.

São Paulo como toda cidade brasileira, durante os anos 60, não oferecia muitas opções para quem gostava de ser, como se dizia na época, um “pé-de-valsa”. Na realidade sobravam poucas alternativas. Uma delas eram as casas de dança, outra, brincadeiras dançantes em casa de amigos ou ainda os bailes com todas as pompas das casas de baile. Naturalmente existiam outras, mas com certeza estas três eram as mais freqüentadas.

Talvez a mais estranha e engraçada fossem as casas de dança. Eram locais que os cavalheiros procuravam simplesmente para dançar. Era obrigatório estar vestindo terno, e as moças do local, também usavam trajes de festa. Ficavam ao redor do salão, esperando para serem convidadas a dançar. Eram profissionais da dança, estavam ali com a única finalidade de dançar, qualquer outro tipo de abordagem não era permitido e visto como uma ação bastante desagradável. Tudo isto normalmente acontecia ao som de uma pequena orquestra que além dos músicos contava com uma crooner.

As brincadeiras dançantes eram quase que exclusividade dos adolescentes. Os grupos de amigos se reuniam na casa de um deles e cada um levava seus discos debaixo do braço. Dançava-se muito, suava-se bastante com os ritmos mais quentes e tudo isso regado a muito guaraná. Às vezes, muito raramente, rolava uma bebidinha alcoólica. Esta era minha tribo, com diz os mais jovens hoje em dia.

O glamour das casas de bailes era para poucos. Normalmente o local era muito sofisticado, as pessoas iam quase que vestidas a rigor. Alguma coisa como os bailes de formatura de hoje. Os bailes mais disputados eram os do Circulo Militar e o Salão do Aeroporto.

Parece que ficam ecoando em meus ouvidos os hits da época, que podem ser quase todos conferidos no Musikal.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Coisas do passado.

Os tempos mudam e os hábitos, que em determinada época pareciam ser a fina flor da sofisticação, anos mais tarde temos até a impressão de que aquilo, às vezes, era de uma singeleza quase beirando o ridículo.

Uma das coisas que eu gostava de fazer em adolescente era ir ao Aeroporto de Congonhas, que nem internacional era ainda, para ver os aviões. Olha que coisa estúpida, ir ao aeroporto simplesmente para ver aviões. E o pior, eu adorava aquilo. Achava o local extremamente sofisticado. O edifício na época nem tinha a grandiosidade dos dias de hoje, mas eu achava muito bonito, os pilares que sustentavam o mezanino, as escadarias, o piso de mármore quadriculado de preto e branco, o café, tudo realmente era um espetáculo.

Mas o que eu gostava mesmo de fazer era ir para um lugar, chamado de prainha, que na realidade tinha o aspecto de uma arquibancada e ficava no teto de boa parte do prédio. Dali se conseguia enxergar toda a pista, que era ridiculamente pequena, o pátio de estacionamento e principalmente eles, as espetaculares máquinas de voar. Com muita sorte se conseguia ver ali estacionados três no máximo quatro delas. Um pouso ou uma decolagem necessitava de muito, mais muito tempo de espera para conseguir ver. Quando acontecia a subida ou a decida de uma aeronave normalmente era seguida de uma efusiva salva de palmas vinda dos espectadores.

Quase todos os aviões eram brancos e azuis ou pratas e azuis, os modelos variavam bastante, mas as cores eram de uma monotonia ímpar. Eis que um belo dia surge uma nova companhia aérea que resolveu colorir seus aviões, eram cinco, um de cada cor. Tinha verde, azul, vermelho, amarelo e rosa. Ir ao aeroporto começou a ter hora marcada - só quando estivesse estacionado algum avião da tal empresa. A prainha ficava lotada para ver a belezura das novas aeronaves.

Se falar sobre este assunto para qualquer pessoa um pouco mais nova, com certeza ela vai achar que o programa era para lá de babaca, mas que isto era muito bom com certeza era.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Andar de trem é uma viagem.

Uma das coisas que gosto de fazer na vida é viajar de trem. Para mim sempre teve sabor de aventura. Como todo bom brasileiro é claro que não posso satisfazer este gosto com muita facilidade por aqui. Este excelente meio de transporte foi bastante negligenciado no país. Acabamos por optar pelo modelo americano de rodovias e mais rodovias e parece que só conseguimos buracos e mais buracos. Não temos nem uma coisa nem outra.

Lógico que não sou um grande conhecedor do assunto, mas para quem já andou desde a Maria Fumaça da Mogiana até o trem-bala, Paris-Montpellier, na França, acho que posso dar meus palpites. Realmente viajar de trem além de seguro é uma delícia. Só o fato de não ter que dirigir, apreciar as paisagens e dar grandes cochilos com o sacolejar dos vagões, já é algo, em minha opinião, muito bom.

Minhas aventuras em cima dos trilhos começaram já na minha infância, quando íamos visitar uma tia que morava a 40 quilômetros de minha cidade. Depois a grande viagem de mudança para São Paulo, doze horas serpenteando com a Maria Fumaça, como já contei aqui em um post passado.

Já adulto, adorava ir ao Rio de Janeiro com o trem leito que sai por volta de onze horas de São Paulo e chegava ao Rio na manhã seguinte. O trem era chamado de Trem de Prata, era todo feito de aço. As cabines eram muito boas, existia um grande sofá que não sei como, se retorcia todo e virava uma belíssima cama, já pronta para dormir, um pequeno banheiro privativo e lógico todo o glamour dos vagões bar e restaurante, realmente um luxo, dava até para imaginar estar no Orient Express.

Depois disso, vieram minhas viagens na Europa, em quase todos os países que fui andei de trem. Diferente daqui os trens por lá são o meio de transporte mais importante e, tanto os trens turísticos como os de carga são muito bons, de uma pontualidade nunca vista, até os minutinhos são respeitados. Todas minhas viagens por lá sempre foram muito emocionantes e acabaram deixando grandes recordações para contar para quem quer que seja no futuro, já que parece que não vou ter netinho.

É realmente uma pena não termos mais este tipo de transporte por aqui, quem sabe um dia, em um futuro distante, nós poderemos contar com esta aventura.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Ajudando uma amiga.

Há muitos anos atrás, passou pela minha vida uma garota que era completamente louca. Seu nome, bem com direito a privacidade, vou chamar de Miss X. Em determinada época éramos muito unidos, minha amigona, eu não tinha ninguém e ela também não e nossa vida era curtir, todos os finais de semana era sempre uma festa. Nossa vida era dançar. Eram os áureos tempos da discoteca e dançar bastante era o que de melhor se tinha para fazer.

Mas voltando à Miss X, ela era uma garota muito bonita, espirituosa e bastante divertida, ela só tinha um defeito, era bem gordinha e vivia em crises por causa disso. Nesta época conhecemos um terceiro amigo, médico e endocrinologista. Lógico que começou ai um relacionamento bastante engraçado entre os dois. Ele queria que ela fizesse um regime, ela querendo fazer regime, mas nunca começava o dito cujo e tudo isto sempre acabando em broncas e discussão.

Um dia nós três estávamos conversando normalmente na sala do apartamento dela e ela resolveu disser que tinha uma novidade para contar. Foi até o quarto e trouxe duas calças destas jeans com lycra, de numeração 40. Ficamos olhando para ela com cara de quem não estava entendendo nada. Ela explicou, olhou para o outro amigo e disse que em três meses ela estaria entrando naquelas calças. O amigo de pronto disse que iria passar uma dieta e até fazer uma receita, muito em moda na época, para ela moderar o apetite.

Depois de discutido e regime planejado, resolvemos perguntar para ela o porquê daquela disposição e o motivo para o tempo marcado para o emagrecimento. Levamos um susto com a simples explicação dela. O motivo era que em três meses ia ter a Feira do Gado em Uberaba, Minas Gerais, e ela tinha ficado sabendo que os fazendeiros eram bem generosos com as meninas de programa da cidade. Sim meus amigos seus planos era descolar algum em Uberaba. Tentamos convencê-la de todas as maneiras de que isto era uma loucura, mas não teve jeito, já era uma decisão.

Esta era a moça, voluntariosa, em três meses ela estava, dentro de uma das tais calças, embarcando atrás de seus planos não muito convencionais.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A beleza dos dias chuvosos.

Mais um dia de chuva e cinzento em São Paulo. Eu já disse aqui em um post passado, que São Paulo e chuva não são compatíveis. A cidade não foi feita para receber esta quantidade de água que cai dos céus. Três dias chovendo acaba com qualquer viabilidade da cidade funcionar. Tudo para, o trânsito, infernal em dias de sol, fica caótico. Estacionamentos lotados, lugares abrigados como os shoppings ou galerias ficam com gente saindo pelo ladrão. As ruas um nojo, encardidas e enlameadas. Parece que a própria chuva que cai já é suja. Tudo fica terrivelmente ruim.

Não, não estou. Vocês devem estar pensando que estou com bastante mau humor hoje, mas não estou. Tudo isto que escrevi acima é simplesmente uma constatação. São Paulo com chuva é horrível. Duvido que alguém pense ao contrário. Como um grande admirador desta capital, gosto de quase tudo nela, o que não gosto não me incomoda tanto, mas dias de chuva beira o insuportável.

Mas como gosto de sempre procurar o lado bom das coisas, olho pela janela e enxergo um pedaço do céu cinzento. Observo melhor e vejo que não se trata de um cinzento qualquer. Num pequeno espaço o cinza adquire diversos tons que vão do quase branco ao chumbo. Tenho que admitir o espetáculo de cores é muito bonito.

Bom vocês já devem ter percebido que arranjei, depois de muito procurar, um bom divertimento para tolerar os dias chuvosos por aqui.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Um país sem passado.

Acho muito estranho esta falta de lembranças, ou melhor, falta de passado, característica bastante comum encontrada em quase todos os brasileiros. Parece que nada que pertence ao passado da nação importa. Ou pior, não importa nem as coisas boas nem as ruins. Simplesmente passou, já não existe mais.

Estava dando uma olhada no Diário de Noticias, de Portugal, e encontrei uma notícia que, se não tivesse lido naquele diário, não estaria sabendo até agora. O texto com o título de AO MAIS BELO INDIIDUALISMO DO MUNDO, tratava de enaltecer um antigo jogador brasileiro, da época em que jogadores brasileiros só jogavam no Brasil, com um texto cheio de elogios que me fez ficar cheio de orgulho de nossos craques.

O elogiado é Manoel Francisco dos Santos - popularmente chamado de Mané Garrincha, sem nenhuma dúvida um dos melhores jogadores de todos os tempos. Ontem, pelo que diz o texto do jornalista Ferreira Fernandes, fez 25 anos de sua morte. O artigo enaltece tanto o jogador a ponto de chamá-lo de herói. Muito comovente.

Alguém viu em algum jornal brasileiro, pelo menos duas linhas sobre o fato. É amigos este país nunca vai ter história.


http://dn.sapo.pt/2008/01/21/opiniao/ao_mais_belo_individualismo_mundo.html

domingo, 20 de janeiro de 2008

Pinacoteca privada.

Faço aqui o meu exercício solicitado pelo Guris, eu vi!, em seu post de hoje, Meu objetivo é mostrar ao mundo um artista que, por motivos que só a ele diz respeito, mantém sua obras trancafiadas em algumas pastas plásticas, dentro de seu quarto.

Estou mostrando aqui uma das pobres obras trancafiadas que eu, sorrateiramente, furtei, fotografei e devolvi no lugar, sem que ele notasse. Agindo desta maneira, bem sei que vai sobrar cara feia para mim. Mas, quando vi a solicitação do outro amigo, logo pensei em não perder tempo e acabar de vez com esta pinacoteca privada que o Roberto, sim ele mesmo o do Musikal, mantém longe dos olhos do mundo.

Em minha modesta opinião de simples observador de coisas belas, acho uma maldade que outras pessoas não possam partilhar tremenda demonstração artística. Este é o meu exercício de desocultar belezas escondidas.

Deixo aqui uma sugestão ao artista. Abrir um blog e postar suas obras para que elas sejam apreciadas pelo mundo. Ou permitir que os amigos divulguem a obra, sem ter de que tirá-las escondidas do quarto.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Criadores de estórias.

Os especialistas dizem que só conseguimos lembrar de situações que aconteceram em nossas vidas, a partir dos seis anos de idade. Todas as lembranças que, salvo raríssimas exceções, temos de antes desta idade é fato assimilado por nossas mentes de estórias contadas por outras pessoas. Como os fatos que me recordo já fazem parte de um período após este marco, sou obrigado a concordar com eles.

Mesmo dentro do tempo legal permitido para lembranças, eu pouco me lembro de coisas que me aconteceram antes da adolescência. Vocês devem estar pensando que o melhor para mim seria procurar uma ajuda profissional. Já postei aqui que não lembrava de meus sonhos, agora não me recordo de fatos que aconteceram na minha infância. Prato cheio para um bom analista.

Mas lembranças ou não, o fato é que tenho em minha cabeça uma estória que aconteceu comigo quando tinha dois aninhos. Acho que solidifiquei tão bem o que alguém relatou sobre o ocorrido que guardo até hoje os acontecimentos da época. Para mim aconteceu mesmo, tenho tão clara as cenas que fica a impressão de ser balela o que dizem os médicos.

Eu me recordo e as cenas vão passando como num filme. Com aquela idade, para desespero dos meus pais e irmãs, eu fugi de casa. Na realidade não fugi, sai escondido para ir visitar uma tia que morava no outro lado da cidade, e acabei me perdendo. Lógico que com aquela idade eu não podia ter muita certeza do caminho. Lembro-me que desci a rua da minha casa e sabia que precisava virar a esquerda em algum lugar, e, lógico que não virei. No final da rua tinha um rio, ou melhor, um riacho. No tal riacho tinha uma destas pontes feita de madeira só para pedestres. Lá em Minas o nome disto é pinguela, aqui não sei. Foi a maior aventura atravessar sozinho a tal pinguela.

Agora a parte mais divertida. Atravessei e do outro lado tinha uma rua muito famosa na cidade. A Rua da Luz Vermelha. Já deu para imaginar do que se tratava. Bom para encurtar o causo, depois de algumas mocinhas acharem muito estranho um menino tão pequeno naquelas paragens, resolveram me acolher para saber detalhes do que eu fazia ali. Isto tudo com muita festa, afinal era uma grande novidade. Depois de muitas brincadeiras, bolos e refrigerante, elas decidiram que já era hora de me levar para casa.

Bom a esta altura a minha casa já estava um reboliço. Minha mãe chorava achando que eu tinha sido levado por ciganos. Haviam procurado por todos os lugares onde por ventura eu poderia estar e nada de me encontrar ou ter notícias. De repente alguém olhou para o fim da rua e lá estava eu, vindo no colo de uma das faladas mocinhas da cidade. Lógico que apesar de achar muito estranho, todos agradeceram aos céus meu aparecimento, mesmo desta forma tão inusitada.

Depois de ler este meu relato, lógico que vocês vão concordar com os especialistas. O fato é que realmente criamos estórias em cima do que nos é passado pelas pessoas que vivenciaram os acontecimentos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Meu perdão.

Outro dia levei um susto com determinado post de um amigo. Pelo conjunto de palavras escritas ali, a primeira impressão era de que o mundo dele estava desabando, mas... conhecendo o amigo como conheço, logo pensei, isto com certeza faz parte daquela tênue linha entre a verdade e a ficção, fato bastante corriqueiro nos seus textos. Parece que o fato de deixar as pessoas na dúvida de ser verdade ou mentira, acaba lhe dando um prazer inigualável. Só para deixar minha consciência tranqüila, entrei em contato, expondo minha preocupação. De pronto fui tranqüilizado, a linha tinha entrado, em minha opinião bem mais do que devia, nos lados da ficção.

Ontem o amigo resolveu em seu blog, através de uma embromação sobre cobiça, elogiar alguns blogueiros. Vindo de quem vem, acho que de novo não condiz muito com a realidade. Ele, justamente ele, cobiçando textos alheios. A mim pareceu mais uma de suas artimanhas. Como uma pessoa pode desejar o que já tem de sobra. Olhem só o que o rapaz cobiça nos outros – poder de síntese, exuberância, desenvoltura e indignação. Se os amigos tiverem uma percepção bastante afiada, que imagino que todos têm, basta uma leve olhada no blog do amigo para perceber estas quatro qualidades, escoando pelo ladrão.

Enfim, o que quero dizer é que vejo o post de ontem, mais como um pedido de desculpas pelo estresses que acabou causando com aquele primeiro texto citado acima, aquele malfadado exercício de retórica.

Então. Sendo assim entendido.
Obrigado pelo elogio e já tem o meu perdão.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Censurado.

Como nos tempos da ditadura o texto que deveria vir para este espaço foi censurado.

Autocensura, das brabas!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Che stupidagine!!

Às vezes parece que nossa estupidez não tem tamanho. São pequenas ou grandes atitudes que tomamos ou falamos que acabam por deixar-nos em uma saia justa bastante complicada. Se acaso estamos sozinhos, só nos resta rir como bobos da situação. Se estivermos acompanhados fica um pouquinho mais complicado, sempre tentamos explicar o inexplicável e deixamos o acontecimento, que já era ridículo, um pouco pior. O melhor é admitir de imediato a estupidez e pronto.

Uma vez em Roma com dois amigos, observando os cartazes dentro do metro, vi um que me chamou a atenção. Todo escrito em italiano, lógico, e que dizia “Concerto alla Villa Giulia”. Pensei lá com meus botões – que pena era um dos lugares que gostaria de ir, paciência. Um ou dois dias depois, foi sugerido por um dos amigos que o nosso passeio pela cidade deveria incluir a Villa Giulia. O guia da cidade indicava ser um local muito bonito e com bastantes atrações.

De imediato já cortei – nós não podemos ir porque a Villa Giulia esta em obras.

Estranhando o meu perfeito conhecimento dos locais em obras da cidade, um deles me questionou sobre como eu sabia do fato. Ao explicar o cartaz visto no metro, notei primeiro o olhar de espanto, depois o riso, finalmente a tremenda gargalhada.

Enfim, depois do grande mico, aprendi que, como no português, o italiano também tinha as duas palavras. A Villa Giulia não estava em obras, sendo “consertada”, in riparazione. Estava somente tendo um concerto de música.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Cine Santa Helena.

Eu adoro cinema. Só não vou mais porque detesto duas coisas, filas e lugares muito cheios. Além disto, para mim cinema tem que ser de noite, o que torna quase impossível não ter estes dois senões. Na minha cabeça não combina com a tarde assistir a um filme. Filme à tarde, combina com televisão, friozinho, mantinha nos pés, bolinho de chuva e muito cochilo.

Normalmente as pessoas não se lembram, pelos menos as que têm que vasculhar em algumas décadas anteriores, quando e como foi sua primeira ida ao cinema. Eu me lembro. Foi em Monte Santo no dia 12 de outubro de 1958. Dois dias depois do meu aniversário. O filme, Branca de Neve e os Sete Anões. Minhas irmãs me levaram na matinê do domingo. A única coisa que me lembro é que, depois da tal bruxa madrasta aparecer, desatei num berreiro que só foi parar no final do filme. Fazendo as manas passarem o maior carão.

Hoje Monte Santo, como quase todas as cidades pequenas, não tem mais o Cine Santa Helena, virou uma popular loja de eletrodomésticos. Mas me lembro bem, na época era um prédio muito bonito. Tinha a platéia, os camarotes e o balcão, ou poleiro como era normalmente chamado por ser as cadeiras só de madeira sem estofamento e os ingressos vendidos a preços bem baratinhos.

Era exibido um filme todos os dias com apenas uma seção que normalmente começava às vinte horas. A partir das dezenove e trinta soava uma sirene, parecida com as usadas pelas fábricas e começava a tocar, através de um alto falante, músicas da época. Muitas dos cantoras e musicas que o Roberto cita no Musikal, eu ouvia antes de começar a exibição. Aos domingos, para a alegria da garotada, às catorze horas começava a matinê. Uma verdadeira festa para crianças e adolescentes. Um dos únicos programas liberados da companhia dos pais. A coisa era bem dividida, adultos à noite, garotada na matinê.

Tenho boas recordações do Cine Santa Helena, uma época em que, ir ao cinema, sempre era sinônimo de muita diversão, se ia ao cinema independente do filme que estava passando. Era a atração do domingo à tarde, fora isto só a algazarra que faziam os garotos, com todos os tipos de brincadeira de rua.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Diabetes mellitus.

Não, não vou deixar aflorar meu lado charlatão e escrever um tratado médico sobre a doença. Apesar de conhecê-la de longos anos e ter bastante conhecimento sobre a praga, ainda -detalhe no ainda - não tenho a intimidade necessária para tanto.

Minha mãe era diabética, duas tias diabéticas, duas irmãs diabéticas, alguns sobrinhos e provavelmente uns tantos mais que ainda não sabem que em suas veias corre um sangue que, provavelmente, só serviria de sobremesa para algum vampiro. Eu, felizmente sou de uma categoria mais nobre, o pré-diabético. Não sou doce nem salgado, sou agridoce. Não sou considerado normal porque minha glicose é um pouquinho elevada. Também não sou considerado diabético porque o pouquinho é pouco ainda. Entenderam?

O que é mais terrível é que a dieta que eu faço, ou melhor, deveria fazer, é tão rígida quanto a de um diabético descontrolado. Minha médica, reforçada por um amigo bem próximo, donos da verdade no assunto, não me deixam, ou melhor, não recomendam que eu tome nem um simples cafezinho com açúcar.

Este amigo próximo foi médico de minha mãe. A relação médico paciente neste caso era perfeita. Ele mandava e ela obedecia sem questionar. Ela dizia - tudo, menos meu pãozinho do café da manhã. Ele acatava a súplica e o tal pãozinho passou a fazer parte da rigorosa dieta dela. Quase jejuava o resto do dia, mas não dispensava de maneira alguma o tal alimento fundamental pela manhã.

O diabetes da minha mãe era bastante engraçado. Não sei se existe alguma relação entre estar preocupado ou nervoso e uma elevação no nível de glicose. Mas o fato é que bastava a conta bancária dela abaixar um pouco, o que realmente acontecia conforme passava o mês, sua glicose fazia uma curva inversamente proporcional. Meu pai é que vivia brincando, quando chegava uma conta nova ou aparecia um gasto extra no mês, ele já dizia que o diabetes dela ia dar um pulo.

Como vocês puderam constatar, conheço bastante sobre o assunto, posso até dar conselhos para alguns. Agora escrever sobre a doença não me sinto seguro porque não sei expor com o jeito médico de dizer as coisas. Aquele jeitinho bastante complicado que ninguém entende.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Tempo perdido.

Só para não deixar de postar. O que vem a partir daqui é “enrolação das brabas”. Eu até tenho um texto já preparado, acho que é bem bom, mas não estou com a mínima paciência de verificar se está tudo ok com ele.

É engraçado este sentimento ambíguo. Estou com vontade de postar, só não estou com vontade de escrever. Até estórias parecidas com brincadeiras do tempo de infância, artimanha já usada por um amigo, não me vem à cabeça. Poderia criar uma saída e publicar só imagens, quem sabe vídeos?

Outra amiga descreveu este estado como nuvens negras. Acho que o meu está um pouquinho pior, nem nuvens. Vazio total. Cheguei à conclusão que não é falta de inspiração - é falta de vontade.

Aí vocês me perguntam – se não tem vontade, porque escreve? Minha resposta - não sei. É não sei mesmo. Nem isso eu sei. Mas prometo que vou fazer alguma coisa para melhorar este estado de calmaria. Vou ver se consigo algum ventinho para balançar minhas velas. Ver se algum fato, acontecimento, lembrança ou pessoa faz com que eu consiga pegar no tranco.

E prometo também que, se não conseguir meu intuito, amanhã vocês não irão perder tão preciosos momentos de suas vida lendo as embromações deste blog.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Se esta rua fosse minha.

Lembram?

“Se essa rua, se essa rua
fosse minha.
Eu mandava, eu mandava
ladrilhar”

Pois é, depois da operação tapa buraco feita nas ruas de São Paulo, que foi apenas e tão somente uma maquiagem nas ruas da capital, a prefeitura deveria começar a tomar providências com as calçadas. Os buracos estão ficando cada vez maiores, e o desprezo pelos pedestres é realmente uma vergonha.

Eu sei que não é um serviço efetuado pela administração pública, mas o trabalho de fiscalização com certeza é. Parece que não faz parte da operação Cidade Limpa, tudo o que esta abaixo de nossos calcanhares. A cidade está uma belezura, sem nenhum anúncio ou letreiro em desacordo, mas a sujeira e os buracos nas calçadas estragam qualquer visual. Não dá para fiscalizar tudo de uma só vez, ou multar os infratores com multas tão altas como as implantadas para os anúncios? Mexer no bolso sempre é uma boa solução, basta ver as cities do first world.

A Avenida Paulista, cartão postal de São Paulo, por conta de uma obra que está sendo realizada para troca das calçadas, está realmente uma festa, e sem direito a salão. Os passeios, fora dos locais onde já foi feita a nova calçada, onde não tem buraco, tem uma poça de água. Onde não tem poça de água, tem sujeira de cachorro. E assim vai, é o fim da picada!

Como reclamar se no meu edifício, a calçada esta tenebrosa. Suja, encardida, cheia de remendos de buracos consertados após obras, criando desníveis. Nossa síndica acha que é mais importante arrumar o jardim, o que realmente é bonito, do que mudar o calçamento. Qualquer dia alguma pessoa vai ficar tão encantada com a obra paisagística e num descuido se esborrachar no chão, depois de um tropeção.

Está certo, não precisa ser com pedrinhas de brilhantes, mas um cimentozinho básico bem que iria ajudar. Uma pedrinha, melhor ainda.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Post sob encomenda.

Então...puxando pela memória...

Há tempos atrás, dois marmanjos recém saídos da casa de mamãe, resolveram se aventurar nas praias da culinária. De mais sofisticado que sabiam fazer, até então, era arroz temperado com caldo de carne e servido com feijoada em lata.

Tudo começou quando um deles descobriu, em uma destas revistas de culinária, a receita de um suflê. Mas não era um suflê qualquer, era uma receita do badalado restaurante francês Marcel, explicando todos os segredos e dicas para que o prato fosse construído com tamanho sucesso como os servidos na casa.

Prontamente um deles resolveu que o suflê, já conhecido e apreciado, seria feito. Imaginem o charme de servir um suflê do Marcel em casa. Chamou o amigo que prontamente resolveu ajudá-lo. Formando ai uma relação de chef e auxiliar que jamais foi superada.

A receita se compunha basicamente de duas etapas. Na primeira, era necessário fazer um tal de molho béchamel, o segredo do prato, e depois o suflê em si. Começaram, rigorosamente seguindo a receita pelo molho. Já haviam estranhado, desde a compra, a enorme quantidade de mantimentos, mas tudo bem. Em uma panela grande foram colocando quilos de farinha, quantidades absurdas de leite, uma enormidade de manteiga e outros ingredientes. Enfim, depois de muito tempo se consegiu um balde do tal molho béchamel.

Molho pronto. Ao suflê. Neste momento tiveram de voltar a receita - olharam bestificados. Não acreditavam no que estavam lendo. A receita mandava adicionar à massa do suflê apenas uma colher de sobremesa do tal molho béchamel. Isto mesmo, uma colher de sobremesa. Lógico que foi só risada. O restaurante dava a receita do molho com as quantidades usadas por eles para fazerem trocentos suflês.

E assim, cara amiga, esta foi a estória do tal balde de molho béchamel que você desafiou que fosse contada nos comentários do Guris, eu vi! Mas tudo isto teve um lado bom, sempre tem um lado bom, não é? Um deles conseguiu se aprimorar e hoje é um cozinheiro mais que razoável. O outro pobre coitado, apesar de ter evoluído na arte, continua a lavar pratos até hoje.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Sweet memories.

Este da foto sou eu. Uma fotografia clássica.

Lembrança de meu primeiro ano primário, como se dizia na época. Livros sobre a mesa, mapa do Brasil atrás, braços cruzados em cima da escrivaninha e placa informando qual a série, no meu caso 1º. Ano. Tudo perfeito, todos poderiam dizer que se tratava de uma criança dócil e comportada. Doce ilusão, se vocês focarem no cabelo, ele com certeza vai denunciar que não era nada disso.

Na realidade, esta foto escolar faz parte de uma lista de lembranças. Com certeza para quem tem uma idade perto da minha, alguns anos a mais, alguns a menos, esta lista trará grandes recordações. Para os mais novinhos serve como informativo de como também se era feliz na era pré-computador.

Lista comentada de objetos, apetrechos e eventos escolares, datados de pouco mais da metade do século passado:

Boletim escolar - tinha que voltar com a assinatura do responsável;
Carteirinha escolar – o inspetor de alunos recolhia e carimbava a freqüência diariamente;
Fazer fila no pátio antes de entrar na sala de aula – por ordem de tamanho e com distância de um braço do companheiro da frente;
Cantar o Hino Nacional – com obrigatoriedade de saber a letra de cor;
Marchar na Semana da Pátria – em algumas escolas com direito a banda ou fanfarra;
Fazer prova com papel almaço pautado, quadriculado e em branco – dependendo da matéria;
Ter prova de ditado e leitura oral – um martírio;
Aulas de religião, música e trabalhos manuais – com apresentação no final do ano;
Ter um tênis Conga azul marinho – para fazer aula de educação física.

Estas são as pérolas que me vêm à cabeça. Alguém se recorda de outras?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Paris não está em chamas.

Como é um local que eu gosto, tenho, só de brincadeira, no canto direito do monitor um gadget que me informa a previsão do tempo e a temperatura, de Paris. Tem também de São Paulo, mas esta é para informação séria mesmo.

Hoje às oito horas da manhã, 11 horas na França, o tempo por lá estava chuvoso e zero grau de temperatura. Muito frio. Nunca em minha vida fiquei exposto à temperatura tão baixa. Quando chegamos aos sete, oito graus do inverno paulistano eu já acho extremamente frio, fico imaginando temperaturas perto ou inferiores ao zero grau. Deve ser uma sensação, digamos, bastante diferente.

Nunca atravessei a linha do Equador durante os meses de inverno no Norte, sempre fui durante a primavera, o outono ou mesmo no verão. Nunca vi neve na minha vida, para mim é a mesma situação que tinha com o mar aos quinze anos. Espero que, quando chegar a hora, a emoção seja a mesma. Se bem que o mar não dá para comparar com nada. Este é um dos itens da minha lista de desejos, quero ver neve. Para o Norte ou para o Sul, tanto faz o importante e ver, sentir, estar lá. E também não é obrigatório ser em 2008.

Bem, mas com toda esta temperatura fria, Paris não deve estar em chamas. Chamas por lá, acho que só no coração do presidente Sarkozy que anda caidinho de amores pela Itália.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Sonho meu?

Apesar de existirem bastantes sonhos que gostaria de realizar em minha vida, não é sobre estes sonhos que quero falar aqui. É sobre os sonhos que temos quando dormimos. Aqueles às vezes maravilhosos, às vezes bem tenebrosos que enchem nossas cabeças quando caímos nos braços de Morfeu.

Acabo falando sobre sonhos de uma forma bem hipotética. Não sei o que é sonhar. Não sonho, ou melhor, não lembro de meus sonhos quando acordo no dia seguinte. Por mais que eu tente lembrar ou mesmo imaginar o que aconteceu não consigo, parece que simplesmente dormi e acordei. A impressão é que minha mente desliga neste período. Para mim é um verdadeiro enigma.

Não sonhar é um acontecimento que me deixa intrigado. Por que eu não sonho? Algumas pessoas mais esclarecidas já me disseram que sonhar eu sonho, só não lembro deles. O fato é bastante curioso, às vezes eu tenho a sensação de ter uma vaga lembrança de algum detalhe que poderia ter acontecido durante a noite. Mas fica só na sensação, nada é concreto, nada liga com nada. Por mais que eu tente não consigo lembrar de algum detalhe, alguma pessoa ou mesmo de algum lugar.

Morro de inveja quando ouço uma pessoa contando algum sonho que teve. Sempre me dá a impressão de que existe algo errado comigo. Sempre fico imaginando como será isto? De que jeito acontece? E o mais interessante que eu acho é que acordado eu sou uma pessoa eminentemente sonhadora. Basta parar o que estou fazendo um instante, minha cabeça voa em pensamentos desvairados e é preciso um grande esforço para voltar à realidade. Para mim cai bem a expressão - sonhar acordado.

O fato me chateia bastante. Para amenizar fico pensando que apesar de tudo, ainda existe um lado bom nesta estória, aliás, conheço pessoas que até sentem inveja deste lado. Como não tenho sonhos, também não tenho pesadelos. Bom, não é?