sexta-feira, 11 de julho de 2008

Minhas tias.

Hoje, olhando com outros olhos, acho que elas não eram tão velhas assim. Quando criança e adolescente sempre achava que elas eram muito mais velhas. Não sei por que, mas o tempo passa e a gente vai perdendo a impressão que nossos parentes e amigos mais idosos, eram tão idosos assim.

Voltando. Jandira, Elvira e Maria Amélia (Melica), irmãs mais velhas de minha avó, portanto tias de minha mãe. Uma viúva, uma casada e uma solteira. Moravam as três juntas. Tinham uma pequena escola herdada de meu bisavô que na época dele era uma grande escola. A única da cidade e a mais conceituada da região.

Tia Melica, a mais velha, desde que me conheço por gente, já era completamente maluquinha. Vivia em um mundo só seu. Tudo o que ela achava que estava sobrando na cozinha levava para seu quarto e guardava em uma cômoda com umas gavetas imensas. De tempo em tempo, Tia Elvira tinha que dar uma geral na tal cômoda e trazer tudo de volta para cozinha. Ou jogar fora o que tinha estragado. Lógico que sobre os protestos da outra. Outra mania dela, no caso da tia Melica, era vender e comprar ovos. Pegava três ovos e procurava Tia Elvira, novamente ela, uma santa, e perguntava se a mesma estava interessada em comprar os ovos. Minha tia comprava e lhe dava o dinheiro. Passado um tempo lá vinha a Melica perguntar se a outra não tinha uns ovos para vender, e comprava. Assim passava seus dias.

Tia Jandira, a mais nova, era uma daquelas pessoas que praticamente conhece a cidade inteira. Católica fervorosa ia à missa todos os dias. Na ida, andava rapidamente e saia com bastante antecedência para não se atrasar e naturalmente era uma das pessoas que ajudava na realização do culto. Sua volta era um caso a parte, demorava horas conversando pelo caminho com todas as pessoas que encontrava. Era uma pessoa muito falante, dava fé de tudo o que acontecia na cidade e como conseqüência disso, era muito falada. Diziam as más línguas que o marido não a agüentou e desapareceu nos primeiros dias da lua de mel. O pior é que, confirmado pela família, as más línguas estavam certas. Ele desapareceu mesmo, só que a causa permanece nebulosa. Nem a família confirma.

Tia Elvira, a do meio, era a mais doce delas. Foi quem criou minha mãe. A bondade em pessoa. Sempre bem disposta e atenciosa, cuidava das irmãs, principalmente da mais velha, com muito carinho. Nunca vi uma pessoa com tremenda paciência, nada a tirava do sério. Quando fazia algo para alguém, notava-se que ela estava fazendo porque gostava. Uma graça de velhinha.

Essas eram minhas tias, muito queridas e cada uma, a seu modo, deixou um pouco de saudade.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Quase um cantor.

Silêncio, ele está dormindo
Vejam como é lindo
Sua majestade, o neném!

A casa já tem novo dono
Novo rei no trono
Sua majestade, o neném!

Parece com papai
Com a mamãe também
Parece com a vovó
Não, não parece com ninguém
Ele, é ele só
Sua majestade, o neném!

Eu não me lembro de nada. Acho que o vexame foi tamanho que eu deletei da memória. Contam as más línguas que cantando estes versinhos, com cinco anos de idade, eu me apresentei em uma festa de Nossa Senhora Aparecida lá nos fundões das Gerais. O fato aconteceu bem no dia de meu aniversário. Dizem que de calças curtas e gravatinha borboleta eu fui a sensação da noite.

Tudo o que sei deste episódio chegou aos meus ouvidos através de outras pessoas, mãe (orgulhosíssima), irmãs mais velhas e amigos conterrâneos. Meus talentos para música foram descobertos por uma prima de minha mãe que estava organizando o show da festa. Ela precisava de uma criança para cantar e “mamãezinha querida” se apressou logo em oferecer seu rebento. Deu certo, ela me ouviu e gostou bastante. Vários ensaios foram feitos para sincronizar minha voz com a música que naturalmente naquele tempo era ao vivo.

Uma coisa é certa, eu tinha uma boa voz. Depois do acontecido me arranjaram uma vaga no coral da igreja matriz. Cantei neste coral até os dez anos quando me mudei da cidade. Recordo-me de ter feito belos solos em missas dominicais. Não me lembro de ter sonhos em ser cantor nesta época. Tudo mudou com a chegada da adolescência, a bela voz infantil deu lugar à outra que só fica bem nos sussurros.

Cantar nunca mais. Agora só no chuveiro e assim mesmo tem sempre alguém reclamando e pedindo para eu não me empolgar.

PS: A música foi gravada pelo Trio Nagô e é da dupla Klécius Caldas e Armando Cavalcante.