sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O aniversário da minha irmã.

Ontem, 30 de julho, foi aniversário da Marizulma, minha irmã mais velha. Se ainda estivesse por aqui, estaria fazendo 69 aninhos. Como ficou resolvido que, para felicidade dela e saudades nossas, ela deveria ir para outros lugares, só nos restou viver com uma imensa ausência.

Como já disse em outras épocas aqui no blog, pela diferença de idade (uns tantos anos), ela acabou sendo minha guardiã. Minha mãe era professora e pouco tempo tinha para dedicar ao pequeno e ela então acabou tendo que ser a responsável pelas distrações do pimpolho. Tarefa não muito fácil como também eu já andei escrevendo por aqui.

Mesmo sentindo uma imensa falta não consigo imaginar situações ruins que passamos juntos. Só lembro-me de momentos agradáveis, os que por ventura tiveram um pouquinho de diversidade, nós resolvemos e conseguimos inverter sempre para um lado positivo. Com isto, com todas nossas arestas aparadas e nossos problemas resolvidos, acho que conseguimos passar nossas vidas a limpo. Só restaram momentos agradáveis para recordar.

Parabéns minha irmã, que a vida continue deste outro lado, proporcionando momentos tão especiais como os que passamos aqui.

PS. A imagem poderia ser um dos tantos bolos que ela fez nos meus aniversários. Como eu não registrei, tive que apelar para este ai.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Minhas tias.

Hoje, olhando com outros olhos, acho que elas não eram tão velhas assim. Quando criança e adolescente sempre achava que elas eram muito mais velhas. Não sei por que, mas o tempo passa e a gente vai perdendo a impressão que nossos parentes e amigos mais idosos, eram tão idosos assim.

Voltando. Jandira, Elvira e Maria Amélia (Melica), irmãs mais velhas de minha avó, portanto tias de minha mãe. Uma viúva, uma casada e uma solteira. Moravam as três juntas. Tinham uma pequena escola herdada de meu bisavô que na época dele era uma grande escola. A única da cidade e a mais conceituada da região.

Tia Melica, a mais velha, desde que me conheço por gente, já era completamente maluquinha. Vivia em um mundo só seu. Tudo o que ela achava que estava sobrando na cozinha levava para seu quarto e guardava em uma cômoda com umas gavetas imensas. De tempo em tempo, Tia Elvira tinha que dar uma geral na tal cômoda e trazer tudo de volta para cozinha. Ou jogar fora o que tinha estragado. Lógico que sobre os protestos da outra. Outra mania dela, no caso da tia Melica, era vender e comprar ovos. Pegava três ovos e procurava Tia Elvira, novamente ela, uma santa, e perguntava se a mesma estava interessada em comprar os ovos. Minha tia comprava e lhe dava o dinheiro. Passado um tempo lá vinha a Melica perguntar se a outra não tinha uns ovos para vender, e comprava. Assim passava seus dias.

Tia Jandira, a mais nova, era uma daquelas pessoas que praticamente conhece a cidade inteira. Católica fervorosa ia à missa todos os dias. Na ida, andava rapidamente e saia com bastante antecedência para não se atrasar e naturalmente era uma das pessoas que ajudava na realização do culto. Sua volta era um caso a parte, demorava horas conversando pelo caminho com todas as pessoas que encontrava. Era uma pessoa muito falante, dava fé de tudo o que acontecia na cidade e como conseqüência disso, era muito falada. Diziam as más línguas que o marido não a agüentou e desapareceu nos primeiros dias da lua de mel. O pior é que, confirmado pela família, as más línguas estavam certas. Ele desapareceu mesmo, só que a causa permanece nebulosa. Nem a família confirma.

Tia Elvira, a do meio, era a mais doce delas. Foi quem criou minha mãe. A bondade em pessoa. Sempre bem disposta e atenciosa, cuidava das irmãs, principalmente da mais velha, com muito carinho. Nunca vi uma pessoa com tremenda paciência, nada a tirava do sério. Quando fazia algo para alguém, notava-se que ela estava fazendo porque gostava. Uma graça de velhinha.

Essas eram minhas tias, muito queridas e cada uma, a seu modo, deixou um pouco de saudade.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Quase um cantor.

Silêncio, ele está dormindo
Vejam como é lindo
Sua majestade, o neném!

A casa já tem novo dono
Novo rei no trono
Sua majestade, o neném!

Parece com papai
Com a mamãe também
Parece com a vovó
Não, não parece com ninguém
Ele, é ele só
Sua majestade, o neném!

Eu não me lembro de nada. Acho que o vexame foi tamanho que eu deletei da memória. Contam as más línguas que cantando estes versinhos, com cinco anos de idade, eu me apresentei em uma festa de Nossa Senhora Aparecida lá nos fundões das Gerais. O fato aconteceu bem no dia de meu aniversário. Dizem que de calças curtas e gravatinha borboleta eu fui a sensação da noite.

Tudo o que sei deste episódio chegou aos meus ouvidos através de outras pessoas, mãe (orgulhosíssima), irmãs mais velhas e amigos conterrâneos. Meus talentos para música foram descobertos por uma prima de minha mãe que estava organizando o show da festa. Ela precisava de uma criança para cantar e “mamãezinha querida” se apressou logo em oferecer seu rebento. Deu certo, ela me ouviu e gostou bastante. Vários ensaios foram feitos para sincronizar minha voz com a música que naturalmente naquele tempo era ao vivo.

Uma coisa é certa, eu tinha uma boa voz. Depois do acontecido me arranjaram uma vaga no coral da igreja matriz. Cantei neste coral até os dez anos quando me mudei da cidade. Recordo-me de ter feito belos solos em missas dominicais. Não me lembro de ter sonhos em ser cantor nesta época. Tudo mudou com a chegada da adolescência, a bela voz infantil deu lugar à outra que só fica bem nos sussurros.

Cantar nunca mais. Agora só no chuveiro e assim mesmo tem sempre alguém reclamando e pedindo para eu não me empolgar.

PS: A música foi gravada pelo Trio Nagô e é da dupla Klécius Caldas e Armando Cavalcante.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O santo casamenteiro.

Hoje é dia de Santo Antônio. Para as pessoas, como eu, que nasceram no interior, esta é uma data bem especial, o início das festas juninas. Com certeza hoje na minha terra devem acontecer muitas comemorações, na cidade ou nas fazendas vizinhas. Realmente é um evento, muitas fogueiras, fogos de artifício, bandeirinhas e quadrilhas, com casamento na roça e tudo. Apesar de pequena a cidade normalmente já é muito animada, imaginem com um bom motivo.

Quando eu era pequeno e ainda morava lá, gostava muito deste período. Para a criançada era muito divertido. Tudo começava sempre no dia 12, véspera do dia de Santo Antônio e Dia dos Namorados. Como o santo também é conhecido como casamenteiro, era normal que as garotas, e as não tão garotas assim, fizessem algumas simpatias para que o santinho ajudasse a encontrar um par.

Como sou o único filho homem de uma família com seis rebentos, e, além disso, o penúltimo, lá em casa a data era uma festa. Minhas irmãs e as amigas, todos os anos, insistiam com novas simpatias para prender algum moçoilo. Era bastante divertido. Lembro-me bem de uma delas - escrever o nome do escolhido em um papel e cravar com um facão no tronco de uma bananeira, à meia-noite. Eu nunca entendi direito a simbologia do facão cravado e da bananeira para tentar conseguir um marido, mas era muito engraçado ver aquele bando de mulher fazendo fila na direção do fundo do quintal. Mesmo com medo do escuro e do que poderia aparecer por lá, elas sempre cumpriam sua missão. Pobres das bananeiras.

Outra simpatia era, também à meia-noite, quebrar um ovo dentro de um copo com água e deixá-lo até o dia seguinte, no sereno. Se o desenho formado lembrasse um vestido de noiva era sinal de que o casamento estava próximo.

Mesmo com todas as simpatias, não me lembro de nenhuma sortuda, incluindo minhas irmãs, que tenha conseguido o intento. O que não impedia de sempre tentarem a mesma coisa no ano seguinte.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O assassinato da coca-cola.

Hoje eu cometi um crime. Assassinei uma garrafa de coca-cola.

O pior é que quando forem reconstituir o crime, com certeza chegarão à conclusão de que foi premeditado. Teve estória e preparação, sem nenhum álibi ou atenuante.

Logo de manhã quando levantei verifiquei que o número de cocas não daria para o fim de semana. Planejei dentro de meus horários disponíveis, um tempinho para passar no supermercado e abastecer minha pequena dispensa com litros e litros do precioso líquido. Depois de comprá-las em embalagens plásticas de seis em seis, as levei para casa.

Lá chegando é que aconteceu o desastre. Coloquei as embalagens no chão da cozinha e sai em busca de uma faca para, como sempre, dar uns talhos no plástico da embalagem e liberar as garrafas. Escolhi uma faca pequena e pontiaguda. Levantei a arma e a desci em um golpe certeiro. Zás...Perfurei uma das garrafas que reagiu com uma pequena explosão e começou a jorrar como um poço de petróleo. Estrebuchou até a última gota de coca que tinha dentro do vasilhame.

Eu, depois de correr assustado para um dos cantos da cozinha, fiquei, sem qualquer reação, apreciando o espetáculo. A pobre espirrou para todos os lados, do chão ao teto não existia um do cantinho sem coca-cola.

Depois do susto, logo veio como reação risadas histéricas, para logo após quase chorar só de pensar em limpar aquela lambança.

Realmente o crime não compensa.

domingo, 18 de maio de 2008

Desabafo mineiro.



Depois de passar o fim-de-semana escutando os gaúchos contarem causos da terra deles, e estando em minoria, me resta apelar para um saudosismo da minha terra. Ó mineiros de todos os cantos, venham em meu auxílio.

Fica esta bela canção, nosso segundo hino.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Uma sina hereditária.

Lendo o post de um amigo, sobre o carinho que ele tem por uma travessa Goyana (aliás, eu conheço a tal peça e acompanho a dedicação dele pelo objeto há décadas), lembrei de meu aparelho de porcelana chinesa. Deve estar guardado em algum lugar da casa. Já tive muito apego por ele. Hoje o mantenho para evitar a perpetuação de uma catástrofe familiar.

Vou explicar. O tal aparelho, daqueles de porcelana bem fininha que você fica com medo de até respirar perto dele, está na minha família, pelo que eu sei, há milhares de anos. Este sim já é uma antiguidade. A primeira a receber de presente de casamento foi a tia de uma tia-avó minha. Pela data deve ter recebido direto de um imperador da dinastia Ming. Ai começou a tal da sina hereditária.

Esta parenta distante acabou tendo seu casamento desfeito. Praticamente abandonada no altar, seu noivo desapareceu e sequer deixou explicação do que poderia ter acontecido. Como era comum na época, e acho que até hoje, não era educado devolver os presentes ganhos, dava azar. Então o tal serviço de café entrou para família. E a sina também!

A minha tia-avó, uma menina adolescente a esta altura, adorava o tal aparelho e ficou com ele para o seu enxoval. Resumo - ficou solteira o resto da vida. Antes de falecer distribuiu, ainda em vida, todos os objetos e pertences que ela havia guardado. O conjunto veio parar nas mãos de minha irmã mais velha.

Já desconfiada que o presente era de grego, ela se limitou a guardá-lo no fundo de um armário e esqueceu dele. Ficou noiva três vezes e não casou nenhuma. Então chegou a minha vez. Eu adorava aquele conjunto e vivia pedindo para ela me dar. De tanto insistir fiquei com ele. Ela, depois de passar para mim, casou.

Este legado já está comigo há uns trinta anos. Continuo solteiro. Primeiro achava que a tal sina existia mesmo. Cheguei até a cogitar a venda para algum antiquário. Hoje eu acredito, com muita fé, que o “azar” existe mesmo e vou manter estas porcelanas comigo, até o fim dos meus dias. Em vida, evito que a sina continue. Depois que cada um cuide de si.